sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

Geopolítica Norte Americana. Trump/Musk e a definição da nova política externa dos EUA.

 Geopolítica Norte Americana. Trump/Musk e a definição da nova política externa dos EUA.

Para entender o que se passa com as declarações de Trump sobre a integração do Canadá e da Gronelândia aos EUA, a retoma da gestão direta do canal do Panamá, o rebatismo do Golfo do México em Golfo da América.

Ao contrário do que alguns analistas de Platô das estações TV main stream e muitos autores de posts no Facebook têm sugerido, não se trata de propaganda barata nem de intenções belicosas vulgares. Trata-se, com efeito de comunicação e nesse domínio Trump é mestre consumado. A quem é que Trump se quer dirigir ou a quem são dirigidas as ou a mensagem? Em primeiro lugar, com frases aparentemente pouco articuladas ele queria dirigir-se ao eleitorado MAGA que, como se sabe não é lá muito esclarecido em tratando-se de geopolítica mundial. A mensagem passou e foi bem acolhida.

Em segundo lugar, tendo tirado as lições da nova configuração geopolítica mundial com a consolidação e alargamento da associação de estados denominada BRICS, Trump virou-se para o futuro e endereçou uma mensagem às novas superpotências ou potenciais superpotências Brasil, Rússia, China, Índia e Indonésia a quem disse o seguinte:

1.       Nós não temos interesse em avançar para ações militares entre nós. Mantenhamo-nos dentro das nossas zonas de influência, respeitemo-nos e negociemos para ultrapassar os nossos diferendos, nomeadamente no que se refere à configuração das áreas de influência futuras;

2.       A nova área de influência dos Estados Unidos da América incluirá o Canadá e o méxico com os quais já tem um tratado de livre comércio, o Golfo do México e a América Central até ao Panamá e para Leste a Gronelândia e, eventualmente, o Reino Unido da Grã-Bretanha e a república da Irlanda;

3.       Os EUA mantêm um certo interesse na Europa, mas esta deverá assumir a sua própria defesa. Além disso, num período de plena reconfiguração do panorama político partidário na Europa, esperar para ver poderá ser vantajoso.

Parece que ele terá a intenção de negociar a partição de outras zonas de influência às quais não se refere explicitamente, mas que de certeza ele não vai querer que caiam na influência e de outras superpotências.

Note-se que os EUA, desde a sua criação, sempre tiveram pretensões imperialistas e toda a potência imperial tem ou cria zonas de influência e zonas de interesse. Não nos esqueçamos de que até há pouco tempo esteve vigente a doutrina Monroe que considerava todo o hemisfério ocidental como zona de interesse americana e todo o continente americano, do Alasca à Patagónia como zona de influência exclusiva dos EUA. Os anúncios de Trump parecem indicar que ele quer reconhecer as zonas de influência das outras superpotências. Por exemplo, na nova configuração, a zona de interesse americana não inclui a América do Sul onde o Brasil já é uma grande potência em formação e associado às superpotências China e Rússia no seio da BRICS.

A Norte, juntando as parcelas do Canadá e da Gronelândia, os EUA ganham uma parcela do Ártico equivalente à que já pertence à Rússia, quando até agora só tinham uma muito pequena parcela. O interesse desta divisão deriva do facto de o Ártico possuir as maiores reservas não exploradas de tudo quanto é necessário para o funcionamento de uma grande economia manufatureira e produtivista. O acesso a esses recursos vai moldar o século XXI e Trump alinha com a política da China que consiste em expandir ou consolidar áreas de influência através do comércio, investimento e negociação em vez de guerras. É claro que toda a grande potência tem de ter poderio militar equivalente e isto satisfaz tanto ao Complexo Militar-industrial como ao eleitorado MAGA. A assunção da gestão direta do canal do Panamá vai permitir duas coisas. 1. Controlar a pasagem dos barcos chineses carregados de mercadorias que atravessam o canal e; 2. Cortar as rotas de entrada de emigrantes ilegais que vêm do Sul, o mesmo acontecendo com o controlo do Canaá a Norte.

Por enquanto ele não diz nada sobre a Indo-pacífico em que jà conta com a Austrália e Nova Zelândia, mais a Corei da Sul e o Japão. Ficará a questão de Taiwan sobre a qual os EUA têm pretensões mesmo reconhecendo que existe uma única China e que Taiwan faz parte dela o que não exclui que essa não possa fazer secessão o que de certeza conduziria a uma guerra com a China e talvez Mundial.

A américa do Sul é deixada ao Brasil enquanto a África e a Ásia do Oeste são regiões onde ainda se pode esperar uma disputa acerba entre a China a Rússia, a Turquia e onde os EUA estão atrasados em matéria de comércio e investimentos e onde vão perder as suas bases militares.

Recomendo a leitura e a escuta dos dois especialistas indicados abaixo:

Joussef Hindi

Escritor, Historiador de religiões e geopolitólogo internacional, especialista da Ásia do Oeste

Alexander Mercouris

Youtubista, geopolitólogo internacional

E

Glen Diesen, geopolitólogo, escritor e professor da Universidade do Sul na Suécia