Cabo Verde
Narrativa Europeísta v/s Narrativa Africanista
A Negação dos Fundamentos da Luta de Libertação Nacional
O que se passa na Guiné-Bissau, país com o qual Cabo Verde
compartilhou grande parte da história colonial comum e com o qual adquiriu a
independência nacional sob a bandeira de um mesmo partido, o PAIGC, fundado e
dirigido por Amílcar Cabral até ao seu assassinato em Janeiro de 1973, ou mesmo
do que se está a pôr em prática no Senegal com o golpe de estado de Maky Sall,
devem ser motivo de reflexão estratégica para nós cabo-verdianos.
A questão é política e ideológica e nada tem a ver com
antropologia ou com geologia. Cabral já havia chamado a atenção para o facto de
a luta se prolongar para além do hastear da bandeira, pois o imperialismo iria
sempre procurar fazer de nós seus sujeitos. Durante o período da guerra fria a
existência de duas superpotências concorrentes criou condições para a prática
de uma política de não alinhamento, embora condicionada por aspetos específicos
caraterísticos do povo cabo-verdiano. Durante o período da hegemonia unipolar
dos Estados Unidos da América o imperialismo não tinha necessidade de se
inquietar com Cabo Verde. No entanto, a ascensão económica da China e mais
recentemente a ascensão económica e militar da Rússia vieram alterar o status
quo.
Assim, a contestação dos fundamentos da luta de libertação
nacional poderá ser um primeiro passo para a criação de um estado cliente
completamente desprovido de políticas próprias e totalmente alinhado e
submetido aos interesses do imperialismo internacional.
A política de contenção da China posta em prática pela
América, implica que esta potência tudo faça para não deixar espaços vazios que
possam ser preenchidos. Mais recentemente assistimos à entrada da Rússia nos
espaços abertos nas antigas colónias francesas, nalguns casos retomando antigas
relações de cooperação militar como no caso do Mali. O desmoronamento do
imperialismo francês na África Ocidental, com a perda da posição dominante que
detinha nos três países da Aliança dos Estados do Sahel (AES) leva o Oeste
Coletivo a tomar medidas para travar a tendência usando todos os meios
disponíveis incluindo golpes de estado como aconteceu na Guiné-Bissau com a
imposição da ditadura de Umaru Sissoko e agora com o golpe de estado
“constitucional” no Senegal onde Macky Sall, perante a eminência da ascensão ao
poder de uma coligação nacionalista e progressista decidiu adiar as eleições
sob um pretexto fútil.
Não nos esqueçamos de que nos meios neoconservadores norte
americanos, domina o princípio de que a hegemonia não se pode partilhar e por
isso inventaram a doutrina do “Full Spectrum Dominance” para se opor à ameaça
de multipolarização do espaço geoestratégico mundial, representada pela
emergência de duas novas superpotências, a Rússia e a China, sobretudo esta que
ameaça a hegemonia económica dos Estados Unidos. Num mundo assim regido não há
espaço para não alinhamentos. Ou, talvez não. Talvez seja necessário lutar por
um não alinhamento estrito, evitando que os pequenos países insulares sejam
transformados em peões na luta de classes internacional que se está a travar.
Para garantir que o Arquipélago de Cabo Verde não tenha
nenhuma hipótese de poder constituir um buraco por pequeno que seja na doutrina do “Full Spectrum Dominance”, é
possível que os estrategos ocidentais pensem (Ou talvez planejem, quem sabe) na
transformação das ilhas num país independente somente de nome, de facto sujeito
à esfera euro-atlântica do poder internacional. No caso de Cabo Verde, devido
às especificidades do país as coisas parecem ser mais fáceis para os
ocidentais. Com efeito, temos uma comunidade emigrada que segundo alguns
estudos poderia ser igual ou superior aos residentes. Essa comunidade emigrada
está fundamentalmente nos países ocidentais e em especial nos Estados Unidos da
América onde alinham pela narrativa ocidental em termos de democracia, direitos
humanos e outros pilares da política ocidental. Os residentes jovens, na sua
maioria desejam sair do país em busca de emprego e de rendimentos que lhes
permitam regressar à terra com economias para construir residência própria,
educar os filhos, etc. Aliás, os cabo-verdianos sempre emigraram por razões
económicas o que não quer dizer que se considerem lusitanos ou anglo-saxões ou
lingalas ou uolofes. Para além disso, existe em Cabo Verde uma camada social
que eu tenho receio de não conseguir classificar com os conceitos atualmente
disponíveis. Podemos para efeitos práticos dizer que se trata de uma elite
burocrática neocolonial que alia novos elementos formados depois da
independência com descendentes da elite burocrática colonial. Essa elite,
tendo-se acomodado mal com a situação de independência nacional num contexto de
luta contra o poder da potência colonizadora, parece estar disposta a aliar-se aos
interesses do imperialismo internacional, caso veja nesse alinhamento uma
possibilidade de realização do seu sonho europeísta.
Para manter o país submisso aos interesses imperialistas
ocidentais, torna-se necessário liquidar os fundamentos da luta de libertação
nacional. De facto, enquanto a maioria dos cabo-verdianos se afirmar no mundo
numa perspetiva de povo africano, o imperialismo não estará seguro de perenizar
a sua dominação sobre o Estado de Cabo Verde. Poderá sempre haver uma
reviravolta eleitoral. Então, coloca-se uma questão ideológica de fundo para a
qual a resposta começa pela criação de uma nova narrativa europeísta, o que
implica a destruição da narrativa africanista e, por consequência, dos
fundamentos da luta de libertação nacional.
O ataque é conduzido em várias frentes. Desde logo, no
domínio linguístico, depois no domínio da origem geológica das ilhas, mais à
frente no domínio dos focos da cabo-verdianidade (seríamos, assim, dois povos,
o de Sotavento e o de Barlavento, esquecendo que quando S. Vicente foi,
finalmente, povoado, a língua comum já existia, que a Boa Vista p.e. já tinha
sido centro dos contactos de Cabo Verde com o mundo, que Santo Antão já havia
sido uma ilha prisão para escravos em reserva para exportação, etc.).
Face aos sinais anunciadores de coisas mais substanciais e,
possivelmente, também, mais graves, importa que os cabo-verdianos não se
esqueçam de onde vieram e porque razão somos um país independente e não uma
região autónoma na periferia da Europa. As novas sociedades formadas nas ilhas
atlânticas a partir do século XV não foram o resultado de uma mistura de
diversas etnias como se misturam diversas frutas num “mixer” para obter um
batido de frutas. Os marcos cronológicos da memória individual, a memória coletiva,
em geral a cultura, na qual a língua representa uma componente fundamental,
formam-se a partir das estruturas do passado. Existe uma recriação adaptação e
não uma mistura. Os genes combinam-se, não se misturam. Continuam lá com a sua
especificidade e identidade e podem manifestar-se ou recombinar-se sempre que
as condições forem propiciadoras. A enxertia de identidades europeias sobre
identidades africanas das populações submetidas ao regime esclavagista ainda
não produziu identidades não africanas em nenhum dos espaços onde sociedades
escravocratas foram implantadas e duraram séculos. Esquece-se, igualmente, que
Cabo Verde se libertou de um colonialismo europeu responsável por três séculos
de escravismo e mais dois de colonialismo, de que resultaram, centenas de
milhares de mortos e de emigrantes forçados para as plantações do Sul e que os
cabo-verdianos não se esqueceram dessa tragédia. Já tínhamos tido a “ladinização”
dos escravos, prática que os antropólogos chamariam de assimilação forçada,
depois foi o luso-tropicalismo do brasileiro Gilberto Freyre e agora são as
teses da miscigenação prolongada, pretendendo criar aquilo a que José António
dos Reis chama de “colonialismo romântico”.
Apesar da suposta e apregoada miscigenação, a História pode
ser contada de maneira muito diferente e, por acaso, muito mais coerente.
Assim, Correia e Silva, no seu recente
trabalho intitulado Noite Escravocrata Madrugada Camponesa, colocou o
escravo, preto, africano, no centro da narrativa da formação da etnia
cabo-verdiana. O africano negro é o ator principal, o herói da epopeia da
formação da etnia cabo-verdiana. É verdade que também houve os brancos da terra
e escassos reinóis. Devemos dizer que pese embora o contributo destes, a etnia
não é definida pela cor da pele, mas sim, pela cultura e pelo território,
podendo muito bem os descendentes dos brancos da terra serem parte constituinte
da etnia cabo-verdiana, africana, como de facto o são. Deve-se, ainda, anotar
que esta componente nunca teve, em Cabo Verde, a expressão que atingiu nos
países da América do Sul colonizados pelos espanhóis nem no Brasil português.
Nessas paragens foram os brancos da terra, os filhos de europeus nascidos nas
colónias, os “criollos” que tomaram o poder e proclamaram as independências.
Coisa bem diferente aconteceu em Cabo Verde.
Apesar da unidade original, devemos aceitar que, de facto, no
Mindelo e na Praia (antiga) criaram-se dois micro cosmos que pretendem, ainda
hoje, ser os definidores da etnicidade cabo-verdiana.
S. Vicente foi definitivamente povoado quando o cônsul
britânico, que tinha o consulado instalado em Sal Rei, na Boa Vista, se mudou
para o Porto Novo em Santo Antão, na sequência da epidemia de febre amarela que
atacou a ilha em 1845. John Rendall haveria de obter uma autorização para o
estabelecimento de uma base permanente de abastecimento dos vapores em carvão.
Os primeiros depósitos eram barcaças fundeadas na baía do Porto Grande. O
grosso dos trabalhadores que acompanharam Rendall na aventura eram naturais da
Boa Vista e acostumados a conviver com os ingleses nas lides do mar na baía /
porto de Sal Rei. Instalado o entreposto carvoeiro, S. Vicente viria a conhecer
um surto de desenvolvimento sustentado durante anos pela atividade portuária, essencialmente
em torno do ““bunkering””. Durante a guerra dos “boers” na África do Sul, o
Porto Grande seria o maior centro de “bunkering” do mundo de então. Para além
do porto, instalaram o telégrafo e os cabos submarinos. Não na mesma dimensão, instalaram-se
também os italianos com o seu “Italcable”.
Os ingleses deixaram marcas indeléveis na paisagem urbana e
na sociedade. Construíram vastas mansões de arquitetura adaptada ao clima e providas
com os mais modernos equipamentos de saneamento. Trouxeram famílias inteiras ou
constituíram famílias casando com senhoras da sociedade local. Trouxeram o
tênis e o golfe e a tradição do Grémio, o gin tónico e o whisky com água
gaseificada. Os italianos também trouxeram famílias e se casaram com senhoras
locais. Criou-se uma nova elite nada lusitana, com hábitos e maneiras
exclusivamente europeias e pouco dada a mestiçagens. Na periferia dessa nova
elite orbitavam os inúmeros empregados desde empregadas domésticas aos
escriturários e os empregados em atividades marítimas e portuárias do negócio
do “bunkering”. Estes viriam a constituir o núcleo da população mindelense
habitantes da “morada”. Esse núcleo considerava-se superior aos demais
insulares. Para eles ser “british” é que era ser civilizado. Mesmo os
portugueses eram tratados com um certo desprezo. Estes eram os “mondrongos”
enquanto os vicentinos de morada eram os “norte contré”. Mais abaixo na escala
social estavam os que viviam de expedientes vários em torno dos enxames de
marinheiros de passagem, incluindo a prostituição. A miscigenação de que tanto
se fala é em parte o resultado de trocas sexuais entre marinheiros dos vapores
ancorados em processo de abastecimento de carvão e mulheres locais muitas vezes
em busca de comida para os filhos e pais de filho. Em muito menor escala, o
mesmo fenómeno já se tinha desenvolvido na Boa Vista durante o período em que
os barcos descendo a caminho das colónias inglesas da América do Norte, paravam
meses na Boa Vista para carregar sal ou durante a pesca da baleia.
Na antiga Praia circunscrita ao pequeno planalto ou achada
que hoje designamos por Platô uma pequena elite burocrática e comerciante
dedicava-se a manter a maioria da população de pés descalços fora da cidade.
Não gostavam do som dos batuques que vinha dos bairros envolventes, a tabanca
não podia subir à Praia. Quando o meu pai visitou a Praia nos anos 1930, os pés
descalços não podiam subir aos passeios da Praça. Quando visitei a Praia pela
primeira vez em 1960 (?), o passeio bem iluminado da praça, do lado da pensão
ou do lado oposto ao edifício do tribunal era reservado às jovens filhas dessa
elite, enquanto as meninas das aldeias que circundavam a Praia e vinham
simplesmente passear ou negociar o corpo só podiam usar o passeio oposto do
lado do tribunal. Não me lembro de ver nenhum polícia a impor essa separação,
mas acontece que era assim. Tinham, também o seu Rádio Clube onde se
encontravam regularmente. A casta dos altos funcionários tendo à cabeça o
Governador colonial também deixou descendência, mas sobretudo hábitos, que
viriam, tanto os descendentes como os hábitos a misturarem-se no seio da nova classe
de burocratas criada pelo novo Estado formado depois da Independência do país.
Essas duas micro cidades viviam de costas voltadas para o
interior, essencialmente africano. Tanto na Praça Nova como na Praça Alexandre
Albuquerque, os pés descalços não subiam ao passeio. O Batuque, a Tabanca e
Funaná estavam proibidos de subi r à Praia, que se resumia ao que é hoje o Platô.
Os pretos estavam excluídos do Grémio por maior fosse a fortuna (No caso do Djô
Feio ele era o responsável local da União Nacional fascista). A candidatura de
Nhô Niclete foi rejeitada e este, por vingança, importou um automóvel igual ao
do Governador.
Essa elite colonial nunca se identificou como africana e não
foi ela que combateu e derrubou o regime colonial ao contrário do que aconteceu
nas Américas. Aqui, Em Cabo Verde, foram os descendentes da classe que havia
destruído o regime esclavagista que subiram ao poder. É por isso que uma
possível mudança de paradigma político, tenha de combater e apagar os
fundamentos da luta de libertação conduzida por essa camada que se definiu no
contrário da elite colonial.
O imperialismo já não é o que era e já não é hegemónico a
nível mundial, mas ainda não é nenhum tigre de papel. Perante a expansão
económica e tecnológica da China, com os seus projetos de autoestradas
comerciais circum-navegando o globo, a localização do Arquipélago de Cabo Verde
volta a ter valor geoestratégico relevante. Não nos esqueçamos, além disso, que
os países da Alta Guiné vêm ganhando nova importância com a aproximação do
início da exploração dos recursos petrolíferos e gasíferos identificados na
região. Perante a ameaça que a Rússia e a China possam representar para a
hegemonia dos Estados Unidos, a aplicação do conceito de “Full Spectrum
Dominance”, precisa garantir mais um país submisso na África Ocidental. Para
isso, é preciso implantar uma narrativa diferente que liquide os fundamentos da
Luta de Libertação Nacional e a sua narrativa africanista e a substitua por uma
narrativa europeísta, neo-luso-tropicalista. A nova versão é, nós somos
miscigenados, nós somos uma nação crioula, somos cabo-verdianos, não somos
africanos.
Vale a pena repetir. Cabo Verde tornou-se um país
independente graças ao seu percurso africanista. Todas as tentativas de
transformação do estatuto político da antiga colónia que ocorreram antes do
aparecimento dos modernos movimentos de libertação africanos, falharam,
precisamente, porque se baseavam numa narrativa europeísta, às vezes encoberta
numa noção muito vaga de nem uma coisa nem outra. É necessário refutar
energicamente todas as teses que pretendem o contrário porque são
anti-históricas e chocam com a realidade social e antropológica da etnia
cabo-verdiana.
Cabral tinha razão. O imperialismo não gosta de regimes
verdadeiramente progressistas e independentes nas ex-colónias e neocolónias.
Depois de conseguida a independência política, a luta continua no quadro de uma
luta de classes internacional. O mero nacionalismo é suspeito. Sempre que um
líder progressista ou apenas nacionalista ou um partido que se proponha seguir
uma via independente, está prestes a chegar ao poder por via de eleições mesmo
que democráticas seguindo os cânones definidos pelos ocidentais, organizam-se
golpes de estado mais ou menos disfarçados.
É preciso dizer que a região onde se localiza a República de
Cabo Verde esteve (ou ainda está, parcialmente) até recentemente, na zona de
influência do sub-imperialismo francês. Nos últimos anos a França vem se
tornando irrelevante em termos de geopolítica global e, em particular, em
África, situação que se agravou recentemente com a série de mudanças de regime
político protagonizadas por militares nacionalistas, que puseram em causa
abertamente os interesses neocoloniais na região. É por isso que os Estados
Unidos precisam segurar politicamente o Senegal, a Guiné-Bissau e Cabo Verde,
ganhando estes nova importância no quadro da doutrina de “Full Spectrum
Dominance”, nos esforços de contenção da ameaça que a China e a Rússia colocam
à hegemonia unipolar norte americana.
À medida em que a União Europeia e, particularmente, a
França se tornam irrelevantes em termos políticos e económicos mundiais, face
às novas superpotências, China, Rússia e em breve a Índia, os Estados Unidos
são obrigados a colmatar as brechas. É assim que Cabo Verde é chamado a votar
na AGNU em total alinhamento com os Estados Unidos e Israel, tenha tentado um
lugar no Conselho dos Direitos Humanos das NU, reconhece a soberania do Reino
do Marrocos sobre o território do Saará Ocidental, extradita um diplomata
venezuelano apreendido em território nacional a pedido dos Estados Unidos,
etc...
Para garantir a permanência temporal dessa orientação é
preciso garantir que governos submissos estejam no poder, quer via eleições ou,
quando se torna evidente que vão perder as eleições, recorre-se ao golpe sem a
menor hesitação. Os casos da Guiné-Bissau e do Senegal são paradigmáticos. Em
Cabo Verde o “regime change” começa pela destruição dos fundamentos da luta de
libertação. A luta de libertação não teria razão de existir caso os
protagonistas tivessem aceite a tese de que somos uma espécie de europeus,
apenas com algumas diferenças de caráter folclórico. É preciso matar a
narrativa africana da luta de libertação e substitui-la por uma narrativa
europeísta.
É assim que se compreende a sanha do ditador da Guiné-Bissau
contra o PAIGC, as tentativas de diabolização dos quadros cabo-verdianos que
lutaram nas fileiras do PAIGC e de desqualificação do seu contributo, as
tentativas de apagar a figura de Amílcar Cabral. Incluem-se nesses esforços as
tentativas para provar que os cabo-verdianos, pelo efeito de 5 séculos de
miscigenação ficaram mais europeus do que africanos, a teoria de que somos
crioulos e que esta designação abarca um povo cuja etnicidade se foge a
definir.
A investida contra os fundamentos da luta de libertação
invade até a geologia. Pretende-se que as ilhas do Arquipélago do Cabo Verde
não pertencem, geologicamente, ao Continente Africano, sem explicarem em que
medida a geologia destas ilhas pode afastar o povo que nelas habita da sua
etnicidade africana. De todo o modo, é bom que se diga que, também
geologicamente, estas ilhas são africanas. A etnia existe sobre um território
ao qual se liga indissoluvelmente. A etnia cabo-verdiana está indissoluvelmente
ligada ao território africano das Ilhas do Cabo Verde.
Neste momento, interessa que os cabo-verdianos tomem
consciência que o seu país, a República de Cabo Verde, está a caminho de se
tornar num mero e insignificante peão no xadrez de interesses internacionais
que não lhe dizem respeito e que tal situação não lhes fará ficar mais perto da
felicidade que almejam.
Fundo das Figueiras, 26 de Fevereiro de 2024